Recensão: A Exploração da Direita nas Infraestruturas de Telecomunicações e Tecnologias Emergentes, e a Inércia da Esquerda (Exceto o PS)
Num contexto de acelerada digitalização, a direita política, particularmente em Portugal e na Europa, tem explorado de forma estratégica as infraestruturas de telecomunicações e tecnologias associadas – desde a automação e inteligência artificial (IA) até à telemetria, criptografia e aquisição de dados – para consolidar poder e influenciar opiniões. Esta recensão analisa como essa exploração ocorre de modo generalizado, criando assimetrias que beneficiam narrativas populistas e de extrema-direita, enquanto a esquerda, com exceção do Partido Socialista (PS), parece incapaz de responder de forma eficaz, limitando-se a reações fragmentadas ou obsoletas.
A Exploração da Direita: De Infraestruturas a Ferramentas de Domínio
A direita tem tirado proveito das infraestruturas de telecomunicações não apenas como canais de comunicação, mas como ecossistemas para manipulação em massa. No caso português, o partido Chega, liderado por André Ventura, exemplifica esta abordagem através do uso intensivo de redes sociais como o X (antigo Twitter). Ventura publica mensagens curtas e emotivas, explorando algoritmos para amplificar conteúdos populistas – como ataques à elite, anti-imigração e nacionalismo – criando "bolhas de filtro" que isolam audiências e fomentam polarização. Esta estratégia de "populismo 2.0" permite a desintermediação, contornando media tradicionais e utilizando funcionalidades como hashtags (#porPortugal) e retweets para disseminar desinformação, com evidências de campanhas coordenadas envolvendo perfis falsos: 58% dos comentários na conta oficial do Chega no X foram identificados como bots ou contas inautênticas, amplificando narrativas pró-Chega. Esta aquisição de dados implícita – via interações sociais – alimenta ciclos de telemetria, onde dados de utilizadores são recolhidos para refinar mensagens targeted, potenciadas por IA.
Em escala mais ampla, a automação e a IA têm sido catalisadores para o apoio à extrema-direita. Estudos europeus mostram que o risco de automação em empregos rotineiros gera insegurança económica, explicando até um terço do aumento no extremismo de direita, com trabalhadores expostos a votarem em partidos populistas como o AfD na Alemanha, Vox em Espanha ou Fratelli d'Italia em Itália. Em Portugal, embora não haja dados específicos, o padrão europeu alinha-se ao crescimento meteórico do Chega: de 1 deputado em 2019 para 60 em 2025, impulsionado por ressentimentos de "perdedores da globalização" em regiões sub-representadas. A telemetria e aquisição de dados via plataformas digitais permitem à direita mapear vulnerabilidades sociais, usando criptografia para proteger comunicações internas enquanto exploram brechas em infraestruturas públicas para campanhas de desinformação – como as identificadas em eleições portuguesas de 2025, onde partidos aumentaram seguidores em 20-55%, mas o Chega destacou-se pela manipulação.
Além disso, extremistas de direita abusam de tecnologias digitais no Sul Global e na Europa, incluindo ciberespionagem e exploração de vulnerabilidades em redes de telecomunicações, como ataques quânticos a criptografia ou uso de IA para ameaças em infraestruturas críticas. Em Portugal, a mídia tradicional tem dado um "megafone" ao Chega, amplificando o seu uso astuto de social media para atrair jovens, contrastando com a ineficácia de outros partidos.
A Resposta Ineficaz da Esquerda: Exceto o PS, uma Falha Estrutural
Enquanto o PS tem tentado contrariar o crescimento da extrema-direita através de políticas de social-democracia europeia – priorizando justiça social, regulação de mercados, estado social forte e direitos individuais para mitigar inseguranças económicas geradas pela automação – a restante esquerda portuguesa, como o Bloco de Esquerda (BE) e o Partido Comunista Português (PCP), parece paralisada. O PS, mesmo derrotado nas eleições de maio de 2025, posiciona-se como alternativa ao bipolarismo AD-Chega, propondo investimentos em serviços públicos e políticas migratórias humanas para combater o populismo alimentado por fake news e IA.
Contudo, o BE e o PCP falham em responder à exploração tecnológica da direita. Não há evidências de estratégias robustas para contrariar desinformação em redes sociais ou usar IA para mobilização progressista; em vez disso, dependem de discursos tradicionais, ignorando a "horizontalidade" das telecomunicações que o Chega explora. Esta inércia contribui para a fragmentação da esquerda, permitindo que a direita capitalize em temas como insegurança e imigração via dados adquiridos digitalmente. Estudos sugerem que estados sociais fortes mitigam o apoio à extrema-direita, mas sem adaptação tecnológica, a esquerda perde terreno.
Em suma, a direita transforma infraestruturas de telecomunicações em armas de polarização, enquanto a esquerda (exceto PS) reage passivamente, arriscando irrelevância num ecossistema digital dominado por algoritmos e dados. Para inverter isto, urge uma esquerda tecnologicamente proativa, regulando plataformas e usando IA para narrativas inclusivas.

Comentários
Enviar um comentário