1. Por que a Rússia precisa mesmo de uma “Netflix russa”?

 

1. Por que a Rússia precisa mesmo de uma “Netflix russa”?

  • Soberania cultural e informacional: Desde 2022, Netflix, Disney+, HBO Max, Spotify, YouTube (com restrições), etc., ou saíram do mercado russo ou foram bloqueados. O vazio foi preenchido rapidamente por plataformas locais (Ivi, Okko, Kinopoisk HD, Wink, Kion, Start, Premier). O Estado russo percebeu que quem controla as narrativas audiovisuais controla grande parte da imaginação coletiva.
  • Guerra de narrativas: Hollywood sempre foi uma arma de soft power americana. Com sanções, a Rússia quer criar o seu próprio “Hollywood digital” que conte histórias russas (ou pró-russas) para o público interno e para os países aliados (BRICS, África, América Latina, Ásia Central). Já existem incentivos fiscais gigantescos e quotas obrigatórias de conteúdo russo nas plataformas.
  • Economia: O mercado russo de streaming + TV paga + cinema movimenta cerca de 3–4 mil milhões de dólares por ano. Antes da guerra, 60–70% desse dinheiro ia para empresas ocidentais. Hoje fica quase tudo dentro do país.

Plataformas que já dominam (2025):

  • Ivi – a maior, tem cerca de 50–60 milhões de utilizadores mensais na Rússia e países da CEI.
  • Kinopoisk HD (do Yandex) – está a tornar-se o “IMDb + Netflix” russo.
  • Kion (da MTS) e Wink (da Rostelecom) – fortemente apoiadas pelo Estado.

2. A parte mais futurista: simulação de sonhos com IA

Aqui entramos num território que mistura propaganda, entretenimento imersivo e até controlo cognitivo. A Rússia está a investir pesado em duas frentes que se cruzam:

a) Neurotecnologia e interfaces cérebro-computador

  • O Ministério da Defesa e o Fundo de Perspetivas Avançadas (análogo russo da DARPA) têm projetos abertos de “sonhos dirigidos” e “neuro-entretenimento”.
  • Em 2024–2025 começaram testes com interfaces não-invasivas (EEG + estimulação magnética transcraniana + VR) para induzir estados oníricos controlados.
  • Empresas como Neuro.net (Moscovo) e o laboratório de Neurotecnologias da Universidade de Moscovo já mostram protótipos que conseguem “reproduzir” cenas simples dentro do sono REM.

b) Geração de vídeo por IA em tempo real

  • O modelo russo Kandinsky Video (Sber), o YandexGPT-Vision e o GigaChat já geram vídeo de qualidade quase cinematográfica.
  • O próximo passo (já em desenvolvimento acelerado) é gerar experiências audiovisuais personalizadas em tempo real que se adaptam ao estado emocional e ondas cerebrais do utilizador – exatamente o conceito de “sonho sintético”.

Comentários