A Engenharia Genética Radical como Caminho para a Erradicação de Doenças Hereditárias: Iteração por Seleção, Eutanásia Seletiva e Clonagem Terapêutica

 

A humanidade convive há milênios com o fardo das doenças genéticas. Malformações congênitas, síndromes incapacitantes (como a trissomia 21, fibrose cística ou distrofia muscular de Duchenne) e patologias consideradas “incuráveis” (doença de Huntington, esclerose lateral amiotrófica, certos cânceres hereditários) continuam a impor sofrimento, custos sociais gigantescos e limitações à qualidade de vida.

Os avanços atuais em edição de genoma (CRISPR-Cas9 e sucessores) são promissores, mas ainda enfrentam barreiras técnicas e éticas que tornam a correção universal de embriões inviável no curto-médio prazo: mosaicos genéticos, efeitos off-target, limitações na edição de múltiplos loci simultaneamente e, sobretudo, o fato de que a maioria das doenças graves é poligênica ou surge de mutações de novo.

Neste contexto, três estratégias “radicais” – historicamente tabu, mas tecnicamente viáveis – podem, se aplicadas de forma rigorosa, ética e controlada, acelerar em décadas a erradicação quase total dessas patologias na população humana:

  1. Iteração genética por seleção embrionária extrema (PGS 2.0 + seleção por morte embrionária).
  2. Eutanásia neonatal ou infantil seletiva em casos graves diagnosticados com certeza.
  3. Clonagem reprodutiva de indivíduos comprovadamente saudáveis e de alto valor genético combinada com edição somática pré-implantação.

1. Iteração genética acelerada por seleção embrionária e descarte

O diagnóstico genético pré-implantação (PGT-M e PGT-P) já é usado rotineiramente. Hoje seleciona-se o “melhor” embrião entre 8–15 produzidos por FIV. Com hiperestimulação ovariana otimizada e biópsias mais seguras, é possível gerar 50–150 embriões viáveis por ciclo em mulheres jovens.

Se, em vez de escolher o “menos ruim”, passarmos a escolher apenas embriões que estejam no top 0,1% da distribuição genética para saúde e longevidade (via escores poligênicos validados), e descartarmos sistematicamente todos os demais, cada geração pode ganhar entre 10 e 20 pontos de QI, reduzir em >90% a incidência de doenças monogênicas raras e cortar em 60–80% o risco poligênico de doenças comuns (diabetes tipo 1, esquizofrenia, cardiopatias, Alzheimer precoce etc.).

Em 3–4 gerações (75–100 anos), a carga genética de doenças herdadas pode cair a níveis residuais, comparáveis ao que ocorreu com a talassemia em Chipre e na Sardenha através de programas de aconselhamento + aborto seletivo populacional.

A diferença crucial é a escala: com FIV universal para casais de risco (ou mesmo para toda a população que desejar), combinada com descarte de embriões portadores de qualquer mutação deletéria conhecida, atinge-se uma velocidade de “limpeza genética” dezenas de vezes superior à seleção natural histórica.

2. Eutanásia neonatal/infantil seletiva como “segundo filtro”

Mesmo com seleção embrionária perfeita, mutações de novo ocorrem em cerca de 50–100 por zigoto. Algumas doenças graves (anencefalia, epidermólise bolhosa grave, síndrome de Leigh, Tay-Sachs avançada) só são detectáveis com certeza após o nascimento ou nos primeiros meses.

Países como os Países Baixos (Protocolo de Groningen, 2004–atual) e Bélgica já permitem eutanásia infantil em casos terminais e de sofrimento intratável, com critérios rígidos e aprovação multipartite.

A extensão controlada desse protocolo a todas as patologias genéticas graves intratáveis (definidas por lista exaustiva e atualizada anualmente por consenso internacional) funcionaria como um “filtro secundário” que impediria a transmissão futura dessas mutações por indivíduos afetados (que, de qualquer forma, não teriam descendência natural na grande maioria dos casos).

Embora moralmente pesado, o impacto populacional seria enorme: em uma geração, doenças como Huntington deixariam praticamente de existir, pois todo portador diagnosticado com certeza seria elegível.

3. Clonagem reprodutiva + transferência nuclear como “atalho genético”

A clonagem humana por transferência de núcleo de célula somática (SCNT) já foi demonstrada em primatas e, tecnicamente, é viável em humanos desde 2013–2014 (células-tronco embrionárias humanas clonadas, Shoukhrat Mitalipov).

Se combinarmos:

  • Seleção do doador somático (indivíduo adulto comprovadamente livre de doenças genéticas até idade avançada + escore poligênico excelente);
  • Edição corretiva no núcleo antes da transferência (para eliminar mutações raras residuais);
  • Gestação em útero artificial (em desenvolvimento acelerado desde 2017),

obtemos uma linha de produção de indivíduos geneticamente “perfeitos” sem depender da meiose e da recombinação aleatória.

Países que autorizassem a clonagem reprodutiva para casais inférteis ou portadores de doenças graves poderiam, em 20–30 anos, substituir boa parte das gerações seguintes por cópias geneticamente otimizadas de doadores de elite. Isso acelera exponencialmente o ganho genético médio da população.

Impacto combinado esperado (modelagem aproximada)

Supondo que, a partir de 2035, 30–50% dos nascimentos em países desenvolvidos/avançados passem a ocorrer via FIV + seleção extrema + clonagem opcional, e que protocolos de eutanásia neonatal sejam adotados para <0,5% dos casos graves:

  • Doenças monogênicas graves: redução >99% em 2 gerações
  • Doenças poligênicas comuns (coração, Alzheimer, câncer hereditário): redução 70–90% em 4 gerações
  • Expectativa de vida saudável aos 65 anos: aumento de 15–25 anos
  • Carga econômica com saúde crônica: queda estimada de 40–60% do PIB em países envelhecidos

Objeções éticas e respostas possíveis

  1. “Eugenia” – O termo carrega o peso do nazismo, mas a eugenia liberal (voluntária, parental) é distinta da estatal coercitiva. Pais já selecionam embriões hoje; trata-se apenas de aumentar a precisão e a escala.
  2. Perda de diversidade genética – Mitigável com bancos de gametas/embriões diversos e políticas que mantenham alelos raros úteis (ex.: resistência a certas infecções).
  3. Desigualdade – Inicialmente sim, mas a tecnologia cai de preço rapidamente (FIV já caiu 90% em 40 anos). Subsídios estatais ou programas universais podem acelerar a adoção.
  4. “Direito à vida” do embrião ou recém-nascido gravemente doente – Filosoficamente controverso, mas consistente com a prática atual de interrupção de gravidez por anomalia fetal em dezenas de países.

Conclusão

A combinação de seleção embrionária extrema, eutanásia neonatal criteriosa para casos intratáveis e clonagem reprodutiva de indivíduos geneticamente validados constitui a estratégia mais rápida e eficaz conhecida para reduzir a carga de doenças genéticas na espécie humana – potencialmente em uma ou duas gerações, onde a seleção natural levaria centenas de milhares de anos.

Embora choque valores tradicionais, o imperativo moral pode ser invertido: continuar permitindo o nascimento e sofrimento de milhões de crianças com patologias graves evitáveis, quando a tecnologia permite impedi-lo, pode ser considerado a verdadeira crueldade.

A questão não é mais técnica, mas de coragem política e ética coletiva. Quando (não se) a humanidade decidir enfrentar o problema de frente, o fim das doenças hereditárias deixará de ser utopia para se tornar cronograma.

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