O Escritório do Guardião da Cientologia

 

O Escritório do Guardião da Cientologia

O Escritório do Guardião (em inglês, Guardian's Office, ou GO) foi uma divisão interna da Igreja da Cientologia, criada em 1966 pelo fundador L. Ron Hubbard, com o objetivo oficial de proteger os interesses da organização contra ameaças externas e internas. Na prática, funcionava como um braço de inteligência e segurança, comparado por críticos a uma "CIA privada" da Cientologia, responsável por operações clandestinas, infiltrações em agências governamentais e campanhas de desacreditação contra opositores. Vou explicar de forma mais concreta, com base em fatos históricos documentados.

Origem e Estrutura

• Fundação: Estabelecido em 15 de agosto de 1966, em meio a investigações governamentais contra a Cientologia no Reino Unido, Austrália e EUA. A sede mundial ficava na Mansão Saint Hill, em East Gringdon, Inglaterra.
• Liderança: Hubbard nomeou sua esposa, Mary Sue Hubbard, como Controladora (ou Guardiã Mundial), dando-lhe autoridade sobre operações globais. Jane Kember atuou como Guardiã Mundial para gerenciar diretrizes diárias.
• Estrutura interna: Dividido em bureaus como Informação (B-1, o "centro nervoso" para arquivos de inimigos e membros), Jurídico, Finanças e Relações Públicas. A maioria das igrejas da Cientologia tinha pelo menos um agente do GO em seu quadro. O foco era em "inteligência", com políticas de coleta de dados via espionagem, infiltração e manipulação.

O propósito declarado era "ajudar LRH [Hubbard] a impor e emitir políticas, salvaguardar organizações de Cientologia, cientólogos e a Cientologia em si, e engajar-se em promoção de longo prazo". No entanto, isso incluía monitoramento de hereges internos e ataques a "inimigos supressivos" (críticos, jornalistas, governos).

Operações Concretas

O GO executou dezenas de operações secretas contra alvos percebidos como ameaças. Aqui vão exemplos específicos:

• Operação Neve Branca (Operation Snow White): A maior operação, lançada em 1973. Envolveu a infiltração de mais de 100 agências governamentais nos EUA e no mundo. Agentes da Cientologia se infiltraram no IRS (Receita Federal dos EUA), Departamento de Justiça, DEA (Agência Antidrogas), Guarda Costeira e Instituto Nacional de Saúde Mental. Eles roubaram ou copiaram cerca de 30.000 documentos confidenciais para eliminar arquivos negativos sobre a igreja. Michael Meisner, assistente de Mary Sue, supervisionou. Isso resultou em recompensas internas para missões bem-sucedidas.
• Campanha contra Paulette Cooper: Autora do livro The Scandal of Scientology (1972), que criticava a igreja. O GO forjou cartas de bomba anônimas em seu nome, plantou munição em sua casa e a incriminou falsamente por ameaças terroristas. Cooper foi presa em 1973, mas as acusações foram retiradas em 1975 após o FBI descobrir a armação.
• Operações contra a mídia:
  • Contra o jornal Clearwater Sun (Flórida): Em 1975, o GO planejou neutralizá-lo por reportagens críticas, convertendo "boas notícias em ataques".
  • Contra o Los Angeles Times: Operação para remover a repórter Bette Orsini, envolvendo um agente disfarçado de mafioso deixando dinheiro como "suborno" implícito.
• Outras ações: Infiltração em Interpol para obter documentos sobre Hubbard; plantio de agentes em agências federais para acessar materiais confidenciais; e operações como "Operação Informação" para desacreditar jornalistas. O GO também mantinha arquivos sobre todos os cientólogos, incluindo desertores, para "proteção ética".

Essas ações baseavam-se no Manual de Justiça de Hubbard, que incentivava táticas como chantagem, difamação e "operações terminais" para "depower" (desempoderar) inimigos.

Queda e Legado

• Escândalo de 1977: Em 8 de julho, o FBI invadiu sedes do GO em Washington D.C. e Los Angeles, confiscando 48.000 documentos, ferramentas de arrombamento e equipamentos de escuta. Isso revelou a extensão das infiltrações.
• Condenações: Em 1979, Mary Sue Hubbard e 10 outros altos oficiais foram condenados por conspiração e roubo. Mary Sue cumpriu pena de prisão. Hubbard foi nomeado co-conspirador não indiciado, mas negou envolvimento.
• Dissolução: O GO foi desmantelado em 1981-1983 por ordem de David Miscavige (líder atual da Cientologia), que o substituiu pelo Escritório de Assuntos Especiais (OSA). O OSA herdou funções semelhantes, mas sob controle da Sea Org (elite paramilitar da igreja). A igreja afirma que o GO foi "criado por membros antiéticos" e não reflete a organização atual.

Essas informações vêm de fontes como investigações do FBI, julgamentos judiciais e relatos históricos. O GO é visto como um dos maiores escândalos de inteligência não estatal da história dos EUA, destacando táticas agressivas da Cientologia contra críticos. Se quiser detalhes sobre uma operação específica ou fontes adicionais, é só pedir!