A Noruega e a Suécia, como nações nórdicas com fortes tradições de welfare state e democracia parlamentar, abrigam espectros políticos polarizados nas extremidades. A extrema-esquerda, representada principalmente por partidos socialistas radicais, enfatiza a igualdade social, o anticapitalismo e a solidariedade internacional. Já a extrema-direita, associada a movimentos populistas nacionalistas, prioriza restrições à imigração, liberalismo econômico seletivo e defesa da identidade cultural nacional. Abaixo, analiso os pontos de vista dominantes de cada ala, com base em suas principais formações partidárias, focando em economia, questões sociais, imigração, meio ambiente e política externa. Esses posicionamentos refletem evoluções recentes, incluindo eleições de 2025 na Noruega e dinâmicas eleitorais de 2024-2025 na Suécia.
Extrema-Esquerda Norueguesa: Partido Vermelho (Rødt)
O Rødt, fundado em 2005 como uma fusão de grupos marxistas e socialistas, é o principal expoente da extrema-esquerda norueguesa. Seu ideário é explicitamente anticapitalista, inspirado no socialismo revolucionário, e ganhou tração nas eleições parlamentares de 2025, alcançando 5,3% dos votos e nove assentos no Storting (parlamento), seu melhor resultado histórico. Sob a liderança de Marie Sneve Martinussen (desde 2024), o partido ampliou seu apelo para além da base tradicional, defendendo a restauração da confiança na democracia e abrindo-se a coalizões governamentais.
- Economia: Defende a substituição do capitalismo por um socialismo democrático, com nacionalização de grandes empresas e expansão do setor público. Propõe impostos elevados sobre os ricos para combater a desigualdade e critica o "neoliberalismo" por perpetuar lucros privados em serviços como creches e cuidados idosos, o que reduz salários e pensões.
- Questões Sociais: Promove uma sociedade baseada em igualdade, direitos humanos, solidariedade e diversidade. Apoia o feminismo, antirracismo, direitos queer e aborto sob demanda até a 22ª semana de gravidez, além de um terceiro gênero legal. Enfatiza o movimento operário como motor de mudança.
- Imigração: Embora não detalhado explicitamente em plataformas recentes, alinha-se a uma visão internacionalista de solidariedade, sem ênfase em restrições.
- Meio Ambiente: Culpa o capitalismo pelo colapso ecológico desde a Revolução Industrial e advoga uma economia que respeite os limites da natureza. Integra o "bloco verde" norueguês, mas enfrentou críticas por oposições passadas à energia eólica e eletrificação de plataformas de petróleo.
- Política Externa: Internacionalista, apoia solidariedade com vítimas de opressão, mudanças climáticas e guerras. Oposse-se à adesão à UE e ao Acordo sobre o Espaço Econômico Europeu (EEE), preferindo um acordo comercial para evitar "dumping social". Critica a OTAN e prioriza alternativas nórdicas; apoia ajuda à Ucrânia contra a invasão russa (incluindo armas), mas opõe-se a tropas norueguesas e caças F-16, e defende o reconhecimento da Palestina.
Extrema-Direita Norueguesa: Partido do Progresso (FrP)
O FrP, criado em 1973 como um partido anti-impostos, evoluiu para uma força populista de direita a extrema-direita, com facções nacional-conservadoras crescentes. Classificado como o mais à direita do Partido Conservador, ele explodiu nas eleições de 2025, tornando-se o segundo maior partido com 47 assentos, impulsionado por frustrações econômicas e anti-imigração. Sob Sylvi Listhaug (líder desde 2021), enfatiza "Noruega em primeiro lugar" e integrou o governo de centro-direita de 2013-2020, mas saiu em 2020 por divergências sobre repatriamento de jihadistas.
- Economia: Liberal econômico, defende cortes drásticos em impostos, taxas e intervenção estatal. Propõe redução do setor público ao mínimo, privatizações em saúde, educação e empresas estatais, e investimento do fundo soberano de petróleo (do petróleo) em infraestrutura e welfare, eliminando regras orçamentárias restritivas. Oposse-se a impostos sobre herança e propriedade.
- Questões Sociais: Enfatiza a família nuclear como pilar cultural, com direitos de visita e conhecimento dos pais biológicos para crianças. Apoia adaptações individuais na educação (notas a partir da 5ª série, mais escolas privadas) e disciplina escolar. Evoluiu para apoiar casamento e adoção gay (desde 2013) e doações de sangue por homossexuais; propõe proibição de burca/niqab em espaços públicos e menos subsídios estatais à arte, priorizando o mercado.
- Imigração: Restritiva, permitindo apenas proteção sob a Convenção da ONU para Refugiados; limita reunificações familiares e opõe-se a asilo humanitário/saúde. Enfatiza integração, deportações de ilegais e criminosos estrangeiros (recorde durante 2013-2021). Vê a imigração em massa como ameaça a valores noruegueses como tolerância e democracia, propondo referendos.
- Meio Ambiente: Facções locais (como em Oslo, que expulsou um MP em 2024) negam o consenso científico sobre mudanças climáticas e defendem "Noruega em primeiro lugar", parando imigração não ocidental.
- Política Externa: Apoia a OTAN como pilar de defesa e relações transatlânticas (inspirado em Reagan/Thatcher). Oposse-se à UE desde 2016; pró-Israel (direito à autodefesa, embaixada em Jerusalém). Critica ajuda externa, preferindo ação humanitária no exterior; apoia Ucrânia (3% do PIB em defesa em 2025).
Extrema-Esquerda Sueca: Partido da Esquerda (Vänsterpartiet)
O Vänsterpartiet, herdeiro do Partido Comunista Sueco (fundado em 1917), é eco-socialista e o único partido no Riksdag (parlamento) a defender explicitamente o fim do capitalismo. Com forte presença feminista (71% de mulheres na executiva em 2020-2022), ganhou impulso nas eleições europeias de 2024, especialmente em Malmö e Gotemburgo, graças à sua postura pró-Palestina, conquistando dois assentos no Parlamento Europeu.
- Economia: Oposse-se a privatizações e defende gastos públicos ampliados, incluindo semana de 30 horas de trabalho. Critica a liberalização da lei de proteção ao emprego e retirou apoio ao governo em 2021 por controles de aluguel.
- Questões Sociais: Integra teoria feminista desde os anos 1960, propondo um Ministério da Igualdade Social e autodefesa feminista nas escolas. Apoia igualdade LGBT em leis matrimoniais, herança e família, ligando feminismo a direitos queer.
- Imigração: Generosa, concedendo residência permanente a refugiados e priorizando reunificações familiares. Defende um welfare forte para integração, regulando imigração mas mantendo a tradição sueca de proteger vítimas de guerra, cobrando mais responsabilidade da Europa.
- Meio Ambiente: Eco-socialista, prioriza ação climática e combate à privatização de recursos naturais.
- Política Externa: Euroscepticista, opõe-se à OTAN (vê adesão como agravante para tensões bálticas) e à zona do euro; em 2022, reviveu propostas de saída da UE e abolição do Parlamento Europeu. Apoia solução de dois Estados para Israel-Palestina (fronteiras de 1967), boicote a bens israelenses e fim de cooperação militar sueca com Israel.
Extrema-Direita Sueca: Democratas Suecos (SD)
Os SD, fundados em 1988 com raízes neonazistas (desculpados oficialmente em 2025 por antissemitismo passado), são nacionalistas e populistas de direita, rejeitando rótulos de extrema-direita. Segundo maior partido no Riksdag (72 assentos em 2024), influenciam o governo de centro-direita via Acordo Tidö (2022), endurecendo leis de imigração e cidadania. Sob Jimmie Åkesson, moderaram-se, expulsando extremistas e aliando-se a conservadores europeus.
- Economia: Mistura welfare state com protecionismo, restringindo benefícios a cidadãos e residentes permanentes (exigindo impostos pagos e autossuficiência). Apoia empresas médias, propriedade estatal em mineração, energia e defesa; reduz impostos sobre herança e idosos, e critica acordos comerciais que ameaçam soberania (ex.: China).
- Questões Sociais: Social-conservador, prefere famílias nucleares, mas apoia casamento e adoção gay, cirurgias transgênero (se aprovadas medicamente) e aborto até 22 semanas. Combate violência de honra e mutilação genital (com deportações); evoluiu de críticas passadas a homossexualidade para apoio total a direitos LGBT, propondo estátuas para figuras queer em 2025. Oposse-se a casamentos forçados e inseminação artificial para casais não tradicionais.
- Imigração: Anti-imigração em massa, defendendo assimilação cultural (não multiculturalismo) e identidade nacional comum. Propõe deportações de criminosos estrangeiros e abusadores de welfare, revogação de cidadania por terrorismo ou não-assimilação, e requisitos de 10 anos de residência para cidadania. Prioriza refugiados cristãos/minorias via ONU, princípio de "primeiro país seguro" e zero asilo em 2022; bane burca em público e hijab em escolas primárias.
- Meio Ambiente: Apoia mitigação climática, mas argumenta que a Suécia fez o suficiente (opôs-se ao Acordo de Paris); defende energia nuclear e pesquisa global, sem oversight da UE em agricultura.
- Política Externa: Euroscepticista, opõe-se a mais integração UE, Schengen (exceto nórdicos) e adesão turca; apoia saída se não reformada. Mudou para pró-OTAN pós-2022 (Ucrânia), elevando defesa a 2-2,5% do PIB. Pró-Israel (embaixada em Jerusalém, ação contra Hamas), pró-Ucrânia (sem limites em ajuda) e anti-Rússia; reconhece genocídio armênio e apoia independência curda/Taiwan.
Esses posicionamentos destacam contrastes profundos: a extrema-esquerda busca desmantelar desigualdades sistêmicas via coletivismo global, enquanto a extrema-direita protege o welfare nacional contra "ameaças externas". Em 2025, ambos os lados ganharam visibilidade — o FrP e SD como forças opositoras/influentes, e Rødt/Vänsterpartiet como vozes radicais em ascensão —, refletindo tensões sobre imigração e economia em contextos nórdicos prósperos mas polarizados.
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