Porque É Que A Criação De Supersoldados Continua A Ser Algo Condenável Quando Não Justificável A Nível De Ética E Deontologia Médica
A criação de “supersoldados” — soldados geneticamente modificados, ciberneticamente aprimorados ou quimicamente otimizados para níveis sobre-humanos — é um tema recorrente na ficção científica, mas na realidade continua a ser considerada eticamente, legalmente e biologicamente inadmissível na esmagadora maioria dos países e organizações internacionais. Eis os principais motivos, de forma clara e estruturada:
1. Violações graves de ética e direitos humanos
- A Declaração Universal dos Direitos Humanos (Art. 3 e 5) e a Convenção de Genebra proíbem experiências em seres humanos sem consentimento livre, informado e revogável.
- A maioria dos processos envolveria testes em militares (muitas vezes hierarquicamente coagidos) ou em prisioneiros, o que já foi condenado como crime contra a humanidade (ex.: experiências japonesas da Unidade 731 e nazis em campos de concentração).
- Modificar permanentemente o genoma humano (CRISPR em adultos ou embriões) viola a Convenção de Oviedo (1997) do Conselho da Europa e a Declaração da UNESCO sobre o Genoma Humano (1997), que proíbem alterações hereditárias por razões não terapêuticas.
2. Riscos biológicos e médicos catastróficos
- Edição genética em adultos (somatic gene editing para força, resistência, ausência de dor, etc.) tem efeitos colaterais imprevisíveis: cancro, envelhecimento acelerado, falência orgânica (ver os casos de “bebés CRISPR” chineses de 2018–2019 e os problemas posteriores).
- Implantes neurais ou exoesqueletos invasivos podem causar rejeição, infeções crónicas, epilepsia ou perda irreversível de funções cognitivas.
- Drogas tipo “NZT” ou estimulantes extremos (ex.: Captagon usado pelo Estado Islâmico) provocam psicose, dependência brutal e colapso cardíaco em poucos anos.
3. Proibição jurídica internacional explícita
- Convenção sobre Armas Biológicas (1972) proíbe qualquer pesquisa que vise modificar o desempenho humano para fins militares de forma permanente.
- Convenção sobre Certas Armas Convencionais (Protocolo IV, 1995) proíbe armas laser cegantes e, por extensão lógica, qualquer tecnologia que cause “dano supérfluo ou sofrimento desnecessário” – muitos aprimoramentos entrariam aqui.
- Desde 2021, a ONU e a Cruz Vermelha têm debatido explicitamente a proibição de “human enhancement militar” (Conferência de Genebra 2021–2024).
4. Problemas de controlo e segurança estratégica
- Soldados “melhorados” que percam o controlo (psicose, mutação, hacking de implantes) tornam-se ameaças internas imprevisíveis.
- Assim que um país desenvolvesse supersoldados, desencadearia uma corrida armamentista genética impossível de conter (como aconteceu com as armas nucleares, mas pior, porque é replicável em laboratórios pequenos).
5. Experiências históricas falharam e foram condenadas
- Programa MK-Ultra (CIA, 1950-1970): LSD e drogas em soldados → loucura e suicídios.
- Projeto Stargate e “supersoldados psíquicos” → zero resultados comprovados.
- União Soviética (anos 80): anabolizantes + transfusões de sangue → cancro e mortes prematuras nos atletas/soldados.
- DARPA (Neural Engineering System Design, 2010-atualidade): implantes cerebrais são usados apenas para tratar lesões graves, nunca para “melhorar” soldados saudáveis – e mesmo assim com enormes restrições éticas.
6. Consenso científico atual
A comunidade científica (AAAS, Royal Society, Academia Chinesa de Ciências, etc.) é quase unânime: “As tecnologias de aprimoramento humano para fins não terapêuticos são prematuras, perigosas e moralmente inaceitáveis em contexto militar.”
Resumo
Não é apenas uma questão de “ainda não termos tecnologia segura”. É que, mesmo que um dia a tenhamos, a maior parte do planeta decidiu (em tratados assinados) que criar seres humanos alterados para matar melhor é um limite civilizacional que não se deve atravessar. É o mesmo motivo pelo qual ainda não usamos armas biológicas táticas ou minas antipessoal em massa: porque a humanidade, depois de ver o horror no século XX, disse “até aqui”.
Por isso, enquanto houver tratados internacionais, comissões de bioética e memória histórica, os supersoldados continuarão a pertencer apenas à ficção (Captain America, Universal Soldier, etc.). Na vida real, permanecem inadmissíveis.
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