Programas Militares Confidenciais da Cientologia: Uma Visão Geral

 

A Igreja da Cientologia, fundada por L. Ron Hubbard, desenvolveu estruturas organizacionais que incorporam elementos paramilitares, hierárquicos e de inteligência, frequentemente descritos como "militares" devido a uniformes navais, treinamentos rigorosos e operações secretas. Esses programas não envolvem forças armadas convencionais, mas simulam uma "marinha espacial" inspirada nas ideias de ficção científica de Hubbard e em sua experiência na Marinha dos EUA durante a Segunda Guerra Mundial. Abaixo, abordo algumas questões chave sobre esses programas, com base em relatos históricos, depoimentos de ex-membros e investigações jornalísticas. Foco em três aspectos principais: a Sea Org (Organização do Mar), o Escritório do Guardião (Guardian's Office) e o Escritório de Assuntos Especiais (OSA), além de programas disciplinares relacionados.

1. O que é a Sea Org e por que ela é considerada um programa paramilitar?

A Sea Org, criada em 1967, é o núcleo elitista da Cientologia, composta por cerca de 5.000 a 6.000 membros dedicados que assinam um contrato simbólico de "um bilhão de anos" de serviço. Inicialmente operando em navios para evitar escrutínio governamental (como da FDA e IRS nos EUA), ela adotou uniformes navais, patentes (como capitão, reservada a Hubbard ou sua reencarnação) e uma hierarquia rígida, com saudações, marchas e treinamentos inspirados em boot camps militares. O atual líder, David Miscavige, é o "Capitão" da Sea Org.

  • Aspectos militares e confidenciais: Membros vivem em condições comunais, trabalham 100 horas semanais por um salário simbólico (cerca de US$ 50/semana), e seguem códigos estritos, incluindo proibições de sexo pré-marital e separação de crianças após os 6 anos (crianças entram na Cadet Org, uma versão juvenil). O treinamento básico (Estates Project Force - EPF) inclui 5 horas de trabalho manual diário e estudo de textos de Hubbard, como A Arte da Guerra, para fomentar "obediência inquestionável". Ex-membros descrevem-na como uma "força paramilitar" que mescla ideias de "espaço navy" com táticas terrestres, visando "salvar o planeta" em um colapso governamental iminente.
  • Controvérsias: Críticos, incluindo acadêmicos como Stephen A. Kent, argumentam que ela surgiu como resposta a resistências governamentais nos anos 1960, funcionando como uma "seita dentro da seita" com vigilância interna e punições. Relatos incluem abortos forçados para manter membros e trabalho infantil.

2. Qual o papel do Guardian's Office em operações de inteligência confidenciais?

O Guardian's Office (GO), fundado em 1966 e dirigido por Mary Sue Hubbard (esposa de L. Ron), atuava como um "bureau de inteligência" da Cientologia, com sede em Saint Hill Manor (Inglaterra). Seu mandato era proteger a Igreja de "inimigos" (governos, psiquiatras e críticos), infiltrando agências federais para roubar documentos confidenciais e monitorar dissidentes internos.

  • Táticas militares: O GO plantava agentes em posições chave no governo dos EUA (como IRS, DEA e Departamento de Justiça), usando microfones, arrombamentos e falsificação de registros. Isso culminou na Operação Snow White (1973-1977), a maior infiltração não estatal de agências governamentais na história dos EUA, envolvendo mais de 5.000 documentos roubados e 136 organizações infiltradas. Hubbard foi nomeado "co-conspirador não indiciado". Outras operações incluíam a Operação Freakout, que visava desacreditar jornalistas com pacotes de bombas falsos e assédio.
  • Fim e legado: Dissolvido em 1983 após prisões (9 membros condenados por crimes federais), suas funções migraram para o OSA. Ex-agentes relataram táticas como "operações de agente morto" (difamação de críticos) e simulações de acidentes para eliminar opositores, embora nem todas fossem executadas.

3. O que é o Office of Special Affairs (OSA) e como ele continua tradições confidenciais?

Sucessor do GO, o OSA (criado nos anos 1980) é o Departamento 20 da Cientologia, responsável por assuntos legais, relações públicas e investigações. Seus membros vêm da Sea Org e operam em "Diretores de Assuntos Especiais" (DSAs) em igrejas locais, reportando diretamente à cúpula.

  • Operações militares modernas: Descrito como uma "CIA da Cientologia", o OSA recruta investigadores privados, ex-policiais e ex-militares (sem necessidade de conversão) para vigilância, litígios "ruinosos" (processos para falir críticos) e contrainteligência. Táticas incluem campanhas de folhetos contra "campanhas de ódio", infiltração em fóruns online e monitoramento de ex-membros. Voluntários da Igreja são coagidos a participar sob ameaça de perda de "proteção ética".
  • Controvérsias atuais: Ex-operativos como Garry Scarff relataram operações em edifícios não divulgados, com foco em supressivos (SPs) como Leah Remini. O OSA é acusado de manter arquivos confidenciais sobre membros e inimigos, similar ao FBI, mas sem accountability legal.

4. O que é o Rehabilitation Project Force (RPF) e seu caráter punitivo militar?

O RPF, lançado em 1974, é um programa disciplinar da Sea Org para "reabilitar" membros infratores, descrito oficialmente como autoaperfeiçoamento via auditoria e estudo.

  • Estrutura militar: Envolve 8 horas de trabalho físico diário (pintura, encanamento), 5 horas de estudo, isolamento em barracas segregadas e horários rígidos, durando meses ou anos. Ex-membros o comparam a "gulags soviéticos" ou campos de reeducação chineses, com técnicas para "quebrar espíritos" inspiradas em treinamentos militares. Parceiros de auditoria ("twins") vigiam fugas, e saída gera "dívida de freeloader" (cobrança retroativa de serviços).
  • Críticas: Jornalistas e acadêmicos o veem como trabalho forçado e reindoutrinação, com relatos de abuso físico e psicológico.

Considerações Finais

Esses programas refletem a paranoia de Hubbard com infiltrações governamentais, evoluindo de uma "marinha privada" para uma rede de inteligência global. Enquanto a Cientologia os descreve como espirituais e voluntários, ex-membros e investigações (como as do FBI em 1977) os retratam como abusivos e ilegais. Para mais detalhes, fontes como o livro A Piece of Blue Sky de Jon Atack ou documentários como Going Clear oferecem perspectivas profundas. Se quiser aprofundar em uma questão específica, é só pedir!

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