Sobre A Necessidade Da Russia Em Fazer Investimento Em Projectos De Natureza De Engenharia Militar Ao Nivel Da IA e Videojogos

 

1. O mítico “banco de dados de IA da Valve/Steam”

Não existe nenhum “banco de dados de IA da Valve” público ou secreto que seja uma espécie de Santo Graal da inteligência artificial. O que a Valve tem de mais avançado em IA é:

  • O modelo interno que usam para o Steam Deck (optimização de jogos, upscaling, etc.)
  • Dados de telemetria anónima de centenas de milhões de jogadores (input lag, padrões de movimento, preferências de género, etc.)
  • O trabalho que fizeram com o Steam Audio, SteamVR tracking e, mais recentemente, com ferramentas de machine learning para recomendar jogos e detectar batota (VACnet).

Isso é valioso comercialmente, mas não é um dataset mágico que, de repente, dê à Rússia (ou a qualquer país) supremacia em IA militar. A Rússia já tem acesso a datasets muito mais relevantes para fins militares: imagens de satélite próprias, dados de sensores de milhares de drones na Ucrânia, telemetria de mísseis hipersónicos, etc. Comparado com isso, o dataset do Counter-Strike ou do Dota 2 é brinquedo de criança.

Além do mais: a Valve é uma empresa privada americana, fortemente alinhada com interesses ocidentais. Vender (ou deixar roubar) esse tipo de dado para a Rússia em 2025 seria um suicídio corporativo e provavelmente um crime de exportação de tecnologia crítica nos EUA. Não vai acontecer legalmente, e um ciberataque bem-sucedido seria retaliado com força desproporcional.

2. Usar isso para “interação sino-russo-japonesa” em sistemas militares

  • China e Rússia já colaboram abertamente em IA militar (exercícios conjuntos, partilha de modelos para drones kamikaze, etc.).
  • Japão é aliado dos EUA via tratado de segurança, tem restrições constitucionais fortes e está a desenvolver a sua própria IA militar com os EUA e a Coreia do Sul (GCAP, AUKUS pillar 2, etc.). Um projecto militar russo-chinês-japonês é pura ficção em 2025 — é mais provável o Japão alinhar com Taiwan e EUA do que com Moscovo e Pequim.

3. Fork do Godot + código do Unreal Engine 5 optimizado para hardware fraco e automação SAP

Tecnicamente interessante, mas novamente desconexo da realidade militar:

  • Godot é open-source (MIT license), qualquer um pode forkar.
  • Unreal Engine 5 é propriedade da Epic Games (china tem 40% da empresa via Tencent, atenção). O código-fonte do UE5 está disponível via GitHub para quem tem conta de developer, mas com cláusulas muito restritivas de uso militar ou por entidades sancionadas. A Rússia está sancionada; não têm acesso legal ao source do UE5 desde 2022.
  • Mesmo que conseguissem (via leak ou engenharia reversa), misturar Godot + UE5 + optimizações para hardware russo (Baikal, Elbrus) daria um motor de jogos, não uma “super-estrutura de controlo militar”. Os sistemas de comando e controlo militares russos (ex. Национальный центр управления обороной) já rodam em software altamente especializado, fechado e air-gapped. Não vão substituir isso por um fork de motor de jogo.

4. Gerar “mapas inteiros e videojogos inteiros” com automação SAP

SAP é um ERP empresarial (gestão de stocks, contabilidade, RH). Não tem nada a ver com geração procedural de mundos ou IA generativa. Provavelmente quiseste dizer “SOTA” (State-of-the-Art generative AI) ou algo como Stable Diffusion + LLM + procedural generation. Mesmo assim:

  • Já existem ferramentas russas (Yandex, Sber) que fazem geração de mundos 3D com qualidade razoável.
  • A China tem o ERNIE-ViLG, o Kosmos-2, etc.
  • Para fins militares, gerar mapas sintéticos para treino de IA já é feito com motores como o VBS4 (Bohemia), Unity (usado pelo exército americano) ou motores proprietários russos.

Conclusão realista (2025)

O que a Rússia realmente precisa (e está a fazer):

  • Mais chips (estão a contornar sanções via China e países da Ásia Central).
  • Mais datasets reais de combate (estão a obter na Ucrânia, todos os dias).
  • Modelos de linguagem e visão otimizados para hardware doméstico (estão a treinar GigaChat, Yalm, etc.).
  • Integração de drones baratos com IA de bordo (já têm o Lancet-3M com reconhecimento autónomo de alvos).

Comparado com isso, “comprar o dataset da Steam” é o equivalente a querer ganhar a guerra com skins de CS:GO. É uma ideia divertida para um thriller techno-russo, mas não tem aderência à realidade estratégica ou tecnológica atual.

Se quiseres, posso ajudar a desenhar uma arquitectura plausível de um motor de simulação militar russo baseado em Godot 4 + Vulkan + ML (usando o que eles realmente têm acesso), mas o cenário Valve + Japão + SAP é ficção pura. 😄

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