1. Onda curta (HF 3–30 MHz) – A “arma de informação” que sobrevive a tudo
- Resiliência total: A onda curta propaga-se por reflexão ionosférica a milhares de quilômetros sem precisar de satélites, cabos submarinos ou torres de celular. Em caso de guerra (convencional ou nuclear), quando satélites forem destruídos, fibras ópticas cortadas e redes 4G/5G neutralizadas, a onda curta continua funcionando.
- Contornar o bloqueio ocidental: Desde 2022, praticamente todas as plataformas digitais ocidentais (YouTube, Facebook, Twitter/X, TikTok, etc.) bloquearam ou restringiram fortemente os media estatais russos. A onda curta permite que a Rússia continue alcançando diretamente audiências na Europa, África, América Latina e Ásia sem depender de intermediários.
- Alcançar populações estratégicas: A Rússia opera transmisores potentes (até 500 kW) em locais como Kaliningrado, Novosibirsk, Irkutsk, Khabarovsk e até em territórios ocupados da Ucrânia (ex.: Donetsk). Com isso chega a:
- Europa Ocidental (em inglês, alemão, francês, espanhol, português)
- África Subsariana (em francês, inglês, suaíli, hausa)
- Oriente Médio e Sul da Ásia
- PsyOps e narrativa própria: Programas como Radio Sputnik, Voice of Russia (agora extinta mas reativada parcialmente), Radio Gardarika e outras emissões em múltiplos idiomas servem para apresentar a versão russa dos acontecimentos, especialmente em países onde a imprensa local é fraca ou alinhada com o Ocidente.
2. Micro-ondas de baixa/média intensidade (geralmente 2,4–6 GHz ou faixas próximas)
Aqui o tema é mais sensível e menos público, mas há evidências e relatos confiáveis:
- Guerra eletrônica e “efeitos não-letais”: A Rússia tem desenvolvido e usado sistemas como o “Murmansk-BN” (onda curta para jamming) e outros baseados em micro-ondas terrestres ou móveis para:
- Interferir em drones ucranianos (já documentado)
- Criar zonas de negação eletrônica em larga escala
- Alegadamente causar efeitos fisiológicos (cefaleia, náusea, desorientação) em pessoal inimigo próximo – isso é o que se chama de “armas de energia dirigida de baixa intensidade”. Há relatos (não 100% confirmados) do uso desses sistemas contra funcionários da embaixada dos EUA em Moscou já nos anos 60–70 (o famoso “Moscow Signal”) e mais recentemente contra diplomatas em vários países (o chamado “Havana Syndrome”, embora a origem ainda seja debatida).
- Proteção de instalações críticas: Emissões contínuas de micro-ondas de baixa potência são usadas para impedir espionagem por drones pequenos ou microfones a laser que operam nessas frequências.
3. Contexto atual (2022–2025)
- Desde a invasão da Ucrânia, a Rússia reativou dezenas de transmissores de onda curta que estavam desativados desde o fim da URSS.
- Em 2024–2025, novos transmissores digitais (DRM – Digital Radio Mondiale) começaram a ser instalados, aumentando drasticamente a qualidade de áudio e permitindo transmissão de dados.
- A Rússia é hoje o país que mais investe em onda curta no mundo (junto com a China). Enquanto os EUA fecharam quase tudo (Voice of America tem apenas 3 sites ativos), a Rússia tem mais de 30 locais de transmissão ativos.
Resumo prático
Para Moscou, onda curta e micro-ondas de baixa/média intensidade são tecnologias baratas, resilientes e assimétricas que:
- Garantem propaganda e influência quando tudo o mais for bloqueado ou destruído
- Sobrevivem a um conflito de alta intensidade (inclusive nuclear)
- Servem tanto para comunicação civil como para guerra eletrônica/psicológica
É por isso que, num mundo dominado por satélites e 5G, a Rússia está a apostar forte em tecnologias que o Ocidente considerava “obsoletas” há 30 anos — porque, em caso de guerra total, são exatamente as que continuam a funcionar.
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