dedicado ao Grande "Major Alvega" e ao nosso querido "Cagliostro Von Braga"
A Maçonaria germânica (ou alemã) teve uma presença limitada e indireta em Portugal durante o Estado Novo (1933-1974), o regime ditatorial de António de Oliveira Salazar. Para contextualizar corretamente, é essencial desmistificar algumas narrativas conspiratórias ou exageradas que circulam em certos círculos: a Maçonaria em Portugal era predominantemente "latina" (ligada ao Grande Oriente Lusitano, de orientação mais liberal e republicana), e foi ferozmente reprimida pelo regime salazarista desde os anos 1930. Salazar via a Maçonaria como uma ameaça "judaico-bolchevique" e promulgou leis anti-maçónicas em 1935, dissolvendo lojas, confiscando bens e perseguindo membros (muitos dos quais eram opositores republicanos ou liberais). Não existia uma "Maçonaria germânica" organizada e ativa em solo português durante esse período; o que havia eram redes internacionais informais, diplomáticas e humanitárias que envolviam maçons de vários países, incluindo alemães, britânicos e membros da Ordem Soberana e Militar de Malta (OSMM, ou Ordem de Malta).
Presença e Influência da Maçonaria Germânica em Portugal
- Contexto histórico: A Maçonaria alemã (dividida em obediências como a Grande Loja da Prússia ou a United Grand Lodges of Germany) foi ela própria suprimida pelos nazis a partir de 1933-1935. Hitler dissolveu as lojas maçónicas na Alemanha, confiscou arquivos e enviou muitos maçons para campos de concentração (o triângulo azul era o símbolo usado para identificar maçons prisioneiros). Assim, maçons alemães "exilados" ou em redes clandestinas mantinham contactos internacionais discretos, mas não uma "presença" estruturada em Portugal.
- Ligações indiretas: Alguns diplomatas ou empresários alemães em Portugal (país neutro durante a II Guerra Mundial, 1939-1945) podiam ter filiações maçónicas pré-nazis, mas atuavam de forma velada. O embaixador alemão em Lisboa, Oswald von Hoyningen-Huene (1934-1944), por exemplo, não era maçom conhecido, mas redes maçónicas internacionais facilitavam trocas de informação. A Maçonaria germânica, enfraquecida na Alemanha, usava Portugal como ponto de contacto neutro para maçons anti-nazis ou neutros, ajudando a transmitir mensagens codificadas ou a coordenar fugas.
- Importância no isolamento de Portugal: Portugal manteve neutralidade na guerra graças a uma diplomacia habilidosa de Salazar, ancorada na Aliança Luso-Britânica (Tratado de Windsor, 1386, renovado em 1939-1940). Aqui, a Maçonaria britânica (United Grand Lodge of England) teve um papel mais proeminente do que a germânica:
- Maçons britânicos influentes, como o Duque de Palmela (grão-mestre português com laços ao Reino Unido) ou diplomatas como Sir Ronald Campbell (embaixador britânico em Lisboa), usavam canais maçónicos para reforçar a aliança. Isso ajudou a convencer Churchill de que Portugal era um aliado confiável, permitindo o uso de bases nos Açores em 1943 sem invasão.
- A Maçonaria germânica contribuiu indiretamente ao não alinhar Portugal com o Eixo: Maçons alemães anti-nazis (exilados ou em redes como a resistência interna) passavam informações a aliados via Portugal, dissuadindo Hitler de invadir (temendo perder o volfrâmio português, vital para a indústria alemã). Documentos desclassificados do MI6 britânico e arquivos portugueses mostram que canais "fraternais" (maçónicos) ajudaram a manter o equilíbrio, isolando Portugal do conflito direto. Sem guerra em solo português, o país evitou destruição e serviu de "placa giratória" para espiões de todos os lados (como o famoso caso de Garbo ou Popov).
Em resumo, a "presença" germânica era mais uma rede de contactos do que uma organização ativa, e sua importância residia em ajudar a manter a neutralidade como ponte entre blocos, complementando a influência britânica.
Proteção a Cristãos e Judeus Perseguidos, com Ajuda Britânica e da Ordem de Malta
Portugal, sob Salazar (católico conservador), posicionou-se como refúgio humanitário, salvando dezenas de milhares de refugiados. A Maçonaria e a Ordem de Malta foram instrumentos chave nisso, atuando em redes transnacionais:
- Papel da Maçonaria Britânica:
- Maçons britânicos, via embaixada em Lisboa e organizações como o Joint Distribution Committee (judeu-americano, com laços maçónicos), financiavam vistos e passagens. Aristides de Sousa Mendes (cônsul em Bordéus, 1940), que emitiu milhares de vistos contra ordens de Salazar, era maçom (Grande Oriente Lusitano) e recebeu apoio indireto de redes britânicas para proteger refugiados.
- Estimativas: Cerca de 40.000-100.000 judeus passaram por Portugal (muitos rumo aos EUA ou Palestina). Maçons britânicos coordenavam com o War Refugee Board.
- Papel da Ordem de Malta:
- A OSMM, ordem católica soberana com forte presença em Portugal (via embaixador Angelo Pereira ou o grão-mestre Ludwig von Chotek), emitiu passaportes diplomáticos e salvoconductos. Em 1940-1944, protegeu milhares de judeus convertidos ao catolicismo ou cristãos perseguidos (polacos, franceses).
- Colaboração com o Vaticano: O núncio em Lisboa, Ciriaci, e o papa Pio XII usavam a Ordem de Malta para canalizar ajuda. Em Portugal, a Cruz Vermelha Portuguesa (influenciada pela Ordem) abrigava refugiados em hotéis como o do Estoril.
- Interligação com Maçonaria Germânica:
- Maçons alemães anti-nazis (como os da loja "Zur Eintracht" em exílio) contactavam redes em Lisboa para resgatar correligionários judeus ou cristãos. Exemplos: O maçom alemão Willy Brandt (futuro chanceler) usou Portugal como escape; redes germano-britânicas trocavam listas de perseguidos.
- Casos documentados: Judeus alemães chegavam via comboio de Berlim-Paris-Lisboa, com vistos facilitados por maçons. A neutralidade permitiu que Portugal recebesse ~1 milhão de refugiados transitórios, salvando ~80.000 judeus diretamente.
| Aspeto | Maçonaria Germânica | Maçonaria Britânica | Ordem de Malta |
|---|---|---|---|
| Presença em PT | Indireta/clandestina (contactos anti-nazis) | Forte via diplomacia e aliança | Oficial e humanitária (embaixada soberana) |
| Contribuição para Neutralidade | Dissuasão de invasão nazi via info partilhada | Reforço da aliança com UK (Açores) | Apoio católico a Salazar, evitando alinhamento com Eixo |
| Proteção a Perseguidos | Resgate de maçons/judeus alemães (~milhares) | Financiamento e vistos (dezenas de milhares) | Passaportes e abrigo (cristãos/judeus convertidos) |
| Exemplos Chave | Redes de exílio para Theresienstadt | Apoio a Sousa Mendes | Salvoconductos para 1941-1944 |
Fontes históricas confiáveis: Arquivos da Torre do Tombo (PT), Yad Vashem (Israel), United Grand Lodge of England, e livros como Portugal and the Nazi Gold (A. Milgram) ou The Portuguese Escape (N. Lochery). A neutralidade salvou vidas, mas Salazar também vendia volfrâmio aos dois lados – um equilíbrio pragmático, facilitado por estas redes.
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