Vladimir Luchansky é um multi-instrumentista e músico experimental de São Petersburgo, na Rússia, que se destaca como uma figura proeminente na cena contemporânea de improvisação musical russa. Sua contribuição para a "nova vaga" (ou "nova onda") de improvisadores russos — um movimento que emergiu nas últimas duas décadas, especialmente após os anos 2010, misturando free jazz, eletrônica experimental, noise e improvisação livre — é marcada por uma abordagem inovadora que funde tradições locais com influências globais. Essa vaga representa uma revitalização da música improvisada na Rússia pós-soviética, com foco em São Petersburgo e Moscou, onde artistas exploram texturas sonoras não convencionais, frequentemente em contextos underground e colaborativos.
Contexto da Nova Vaga Russa de Improvisação
A improvisação musical na Rússia tem raízes profundas, remontando aos anos 1980 com figuras como Vyacheslav Guyvoronsky e Vladimir Volkov, que ajudaram a definir a cena free improv sob o selo Leo Records. No entanto, a "nova vaga" refere-se a uma geração mais jovem (pós-2000), influenciada pela globalização digital e pela acessibilidade de ferramentas eletrônicas. Artistas dessa onda, como Ilia Belorukov, Kurt Liedwart e collectives como o Khabarovsk Experimental Sound Ensemble, enfatizam a experimentação sonora, o uso de efeitos e colaborações interdisciplinares. Essa cena floresceu em festivais como o "Improvised Music Festival" em São Petersburgo e plataformas online, resistindo à comercialização e abraçando o caos criativo. Luchansky se insere perfeitamente nesse ecossistema, atuando como um elo entre o jazz improvisado tradicional e a eletrônica abstrata.
O Papel de Vladimir Luchansky
Luchansky, nascido e baseado em São Petersburgo, é conhecido por sua versatilidade como saxofonista alto, mas também por dominar uma gama de instrumentos e efeitos eletrônicos. Seu trabalho é caracterizado por colagens psicoacústicas interativas — composições que brincam com percepções auditivas, criando ilusões sonoras e texturas imersivas que desafiam o ouvinte a "ouvir ativamente". Ele é um improvisador nato, priorizando o espontâneo e o imprevisível, o que o torna um colaborador ideal nessa nova vaga.
Como Inovador Solo: Seu álbum Transitions (lançado em 2021 pela Orbit577, um selo ligado à 577 Records de Nova York) é um exemplo paradigmático de sua abordagem. Nele, Luchansky explora transições fluidas entre ruído controlado, drones e melodias fragmentadas, gravado durante o isolamento da pandemia em 2020. O disco é descrito como um "tour-de-force experimental", destacando sua habilidade em fundir saxofone acústico com processadores de efeitos para criar paisagens sonoras minimalistas e hipnóticas. Essa obra reflete o ethos da nova vaga: introspecção pessoal em meio a turbulências sociais, como a instabilidade política na Rússia.
Colaborações e Rede de Influências: Luchansky é um conector vital na cena, participando de duos e ensembles que ampliam os limites da improvisação. Entre seus parceiros estão:
- Romain Stolyar (pianista e compositor de Novosibirsk): Duos que misturam piano preparatório com saxofone processado, performados em festivais internacionais.
- Piotr Ototsky (baterista): Explorações rítmicas livres, enfatizando o groove improvisado.
- Verevka: Um coletivo de improvisadores de São Petersburgo focado em microtonal drone, onde Luchansky contribui com camadas eletrônicas.
- Outros projetos incluem colaborações com a banda de art-punk moscovita GSh, o avant-metal Zhertvoprinosheniya e o álbum Puteshestviya, Kotorykh Ne Bylo ("Viagens Que Não Aconteceram", 2021, pela Kartasvazhin), que integra elementos de free jazz com narrativas fictícias sonoras.
Essas parcerias não só expandem seu alcance — com apresentações em mais de 20 países, incluindo EUA, Japão e Europa Ocidental — mas também fortalecem a rede da nova vaga, promovendo trocas com improvisadores globais como Dominic Duval, William Parker e Oliver Lake. Em eventos como o concerto no Sound Museum de São Petersburgo (com Stolyar e Dmitry Shubin), Luchansky demonstra como a improvisação pode ser um diálogo vivo, influenciando uma geração mais jovem a adotar ferramentas digitais para subverter convenções.
Impacto Cultural e Social: Na Rússia atual, onde a censura e o isolamento geopolítico limitam a difusão cultural, Luchansky representa a resiliência da cena underground. Seus trabalhos, disponíveis em plataformas como VK Music e Bandcamp, incentivam o ouvinte a uma escuta ativa, ecoando temas de "viagens impossíveis" em tempos de restrições. Ele contribui para festivais locais que preservam o legado soviético de experimentação (como o estúdio de música eletrônica de Murzin nos anos 1960), mas o atualiza com uma estética pós-internet. Críticos o veem como um "ponte" entre o isolamento de São Petersburgo e o mundo, ajudando a exportar a nova vaga para além das fronteiras russas.
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