O Papel Da Disseminação Da Composição Electroacustica No Pos-25 De Abril No Desenvolvimento Das Telecomunicações Em Portugal
Após a Revolução de 25 de Abril de 1974, que marcou o fim do regime autoritário do Estado Novo e abriu portas para a liberdade cultural e tecnológica em Portugal, a música eletroacústica ganhou um novo ímpeto. ha evidências de um papel direto e causal na desenvolvimento técnico das telecomunicações (como redes de telefonia ou internet), esta forma de arte experimental contribuiu indiretamente para a exploração e difusão de tecnologias relacionadas ao som, processamento digital e transmissão audiovisual, áreas que se intersectam com as telecomunicações. Vou explicar isso com base em contextos históricos e exemplos específicos.
Contexto Histórico Pós-1974
A revolução permitiu o fluxo livre de informações, bens e ideias, facilitando redes artísticas e o acesso a tecnologias estrangeiras. Antes de 1974, a música eletroacústica em Portugal era limitada por falta de infraestrutura e censura, com pioneiros como Jorge Peixinho, Cândido Lima e Filipe Pires produzindo obras no exterior (ex.: em estúdios como o GRM em Paris ou IPEM em Ghent). Após a revolução, a estabilidade política nos anos 1980 e a globalização nos 1990s impulsionaram o gênero:
- Criação de estúdios dedicados em instituições acadêmicas, como na Escola Superior de Música de Lisboa (ESML), Porto (ESMAE) e Universidade de Aveiro, a partir dos anos 1990.
- Acessibilidade a tecnologias como sintetizadores, computadores pessoais, software (ex.: Csound, Max/MSP) e MIDI, que permitiram composições interativas e espacialização sonora.
- Difusão via rádio (ex.: programa "Música Hoje" da RDP desde 1990) e, mais tarde, internet, com arquivos de áudio downloadable e colaborações online.
Esses avanços tecnológicos na música eletroacústica paralelaram o desenvolvimento das telecomunicações em Portugal, que incluíram a liberalização do setor nos anos 1990, a privatização da Portugal Telecom (PT) e a expansão da internet. Compositores usaram infraestruturas de radiodifusão pública (como os estúdios da RDP para mixagem de obras, ex.: "Autómatos da Areia" de Cândido Lima, 1979-1984), testando técnicas de processamento de sinal e transmissão que são fundamentais para telecomunicações modernas, como compressão áudio e redes multicanal.
Exemplos de Interseções com Telecomunicações
- EXPO'98 como Vitrine Tecnológica: A Exposição Mundial de Lisboa em 1998, com o tema "Os Oceanos, um Património para o Futuro", foi um marco para Portugal mostrar inovações, incluindo tecnologias de telecomunicações e multimídia. Pavilhões como o do Conhecimento dos Mares integraram instalações sonoras avançadas, onde a música eletroacústica desempenhou um papel demonstrativo. Por exemplo, a obra "Comunicações" de Miguel Azguime (1998) foi uma peça programática eletroacústica comidada para uma instalação de som de 94 canais no Pavilhão do Conhecimento dos Mares. Essa instalação explorava temas de comunicação e redes ("networks"), usando espacialização sonora multicanal que demandava tecnologias de transmissão e sincronização áudio – elementos chave em telecomunicações. A EXPO'98 envolveu empresas como a Portugal Telecom na infraestrutura geral do evento, incluindo redes de comunicação para pavilhões interativos e realidade virtual, onde o som experimental poderia ter influenciado demonstrações de áudio digital.
- Pioneiros e Inovação Tecnológica: Compositores como Cândido Lima foram pioneiros no uso de computadores e informática musical em Portugal, com obras como "Oceanos" (1978-1999) incorporando síntese digital e sistemas como UPIC. Essa experimentação contribuiu para o avanço da informática, que por sua vez alimentou o setor de telecomunicações (ex.: processamento de sinais para redes digitais). Miguel Azguime, fundador da Miso Music Portugal e da Orquestra de Altifalantes (dedicada à performance eletroacústica desde 1995), desenvolveu pesquisas em música em tempo real com computadores, dando palestras sobre o tema. Seus trabalhos teatrais eletroacústicos exploram a relação entre texto, som e drama, usando eletrônicos para simular "comunicações" em rede.
- Difusão e Uso Cultural das Telecomunicações: A música eletroacústica foi promovida através de meios de telecomunicação, como rádio e internet, ajudando a popularizar o uso cultural dessas tecnologias. Festivais como Música Viva (desde 1992) e etiquetas independentes usaram CD e online sharing para disseminar obras, contribuindo para a adoção da internet em Portugal nos anos 1990-2000. Isso indiretamente estimulou o desenvolvimento de redes digitais, ao criar demanda por transmissão de áudio de alta qualidade.
Em resumo, o papel da música eletroacústica foi mais exploratório e cultural mas tambem técnico direto: ela utilizou e testou tecnologias de som que influenciaram inovações em telecomunicações, especialmente em contextos como a EXPO'98, onde serviu como demonstração de comunicação multimídia. No entanto, o impacto principal foi no enriquecimento da cena artística portuguesa, com compositores impulsionando a educação e pesquisa em tecnologias sonoras.
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